quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

NATAL DE QUEM ?

NATAL DE QUEM?
 Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas
-- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
 - Está bem, eu sei!
 - E as garrafas de vinho?
 - Já vão a caminho!
- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
 - Não sei, não sei...
 Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
 - Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
 Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
 Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
 Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
 O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!
 Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
 - Foi este o Natal de Jesus?!!!
 (João Coelho dos Santos in Lágrima do Mar - 1996)
O meu mais belo poema de Natal

1 comentário:

filomena bernardino disse...

Rosinha o Natal é isso mesmo.Andar atarefada,fazer tudo o que é preciso
para que tudo corra bem.Com a família reunida,é assim que o Natal é bonito.
No domingo vai se á missa,

Bj e um Bom Ano de 2015
Filomena